Festival Paseo em Bayonne: “Uda” ou quando a dança contemporânea encontra Vivaldi

O coletivo Ninika se apresentará no festival Paseo de Bayonne, a partir desta quinta-feira, 14 de agosto. Dez minutos para valsar ao ritmo de Vivaldi
Dois corpos em pé, braços erguidos, cabeças erguidas. Eles se curvam gradualmente, desabam. Até caírem no chão. Deslizam pelo piso de parquet e se entrelaçam. A cappella, os movimentos questionam. Mas quando as primeiras notas musicais ressoam, tudo faz sentido. É o verão de Vivaldi. "Uda" em basco. E esse é o nome do espetáculo que o coletivo Ninika criou para o festival Paseo.
Desta cena, é possível vislumbrar árvores em decomposição sob o calor do verão. Mas cada um é livre para interpretar o que vê. Esta coreografia é fruto de duas subjetividades: a de Jeanne Rousseau e Iban Garat, de 25 e 24 anos, ambos professores de dança no Conservatório de Bayonne.

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Quando ouve Vivaldi — "por séculos" —, Iban é transportado para um festival de música eletrônica ou para uma toalha de piquenique à sombra de uma árvore. Para Jeanne, uma pintura lhe vem à mente: "Uma Tarde de Domingo na Ilha de La Grande Jatte", de Georges Seurat.
Energias diferentes: é isso que caracteriza a arte deles. "Trabalhamos muito com o contraste, gostamos de unir elementos que não têm nada a ver um com o outro, para realçar o seu valor", explica Jeanne. Principalmente porque as influências são distintas. Ela tem dez anos de dança contemporânea no Conservatório. Ele descobriu a dança contemporânea no ensino médio. Sua primeira formação foi com a dança basca.
Influências recíprocas
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De braços dados, pequenos saltos que lembram mutxiko. Rostos sérios, olhares fixos. Será que se influenciaram mutuamente? "Completamente", garantem em uníssono. "Pulos não eram minha praia no começo", diz uma. "Ela me ensinou a ser teatral", admite a outra.
Uma sincronicidade que começou há vários anos. Foi em Bordeaux, durante seus estudos em artes cênicas. Desde então, eles são inseparáveis. Iban retornou à sua cidade natal. Jeanne deixou sua Borgonha para vir para Bayonne. Desde 2023, eles formam o coletivo Ninika.
"Uda" é o segundo espetáculo deles. Uma peça criada em uma semana, especialmente para o festival Paseo. Um "trampolim" para o jovem coletivo que ainda busca sua identidade. "Para este espetáculo, não pensamos na cenografia, no figurino ou na divulgação. Apenas na dança e nos movimentos. Nada mais." E então, paralelamente ao trabalho como coreógrafos, eles dão aulas. Quando não estão no conservatório, Jeanne e Iban ministram oficinas em escolas. Atividades que seguem seu lema: "tornar a arte ao vivo acessível".

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O projeto deles pode ser novo, mas eles têm ambição. Entre duas bourrées, eles se permitem sonhar. Um dos seus objetivos: realizar espetáculos ecologicamente responsáveis. "Pensamos muito no nosso impacto ecológico como artistas", admite Iban.
Para seu primeiro espetáculo, "Les Enfants Perdus", os figurinos foram feitos com retalhos de tecido, costurados por uma vizinha costureira. E quando fizerem turnê daqui a alguns anos, gostariam de evitar viagens longas.
Por que Ninika? "O broto" em basco. Uma flor em processo de criação. Com "Uda", o broto pode estar prestes a florescer.
SudOuest